sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada.


.Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Saudade de andar por aqui...

Um dia...

1. Sujar o pé de areia pra depois lavar na água
2. Esperar o vaga- lume piscar outra vez
3. Ouvir a onda mais distante por trás da mais próxima
4. Não esperar nada acontecer
5. Se chover, tomar chuva
6. Caminhar
7. Sentir o sabor do que comer
8. Ser gentil com qualquer pessoa
9. Barbear-se no final da tarde
10. Ao se deitar para dormir, dormir.





De vez em quando eu esqueço da felicidade que as pequenas coisas me proporcionam. Torno-me mecânica como a rotina. O toque do meu despertador não é mais minha trilha sonora, é um bipe chato, contínuo e sem vida que me deixa já irritada as 5 da manhã. Não sinto o sabor do café da manhã, pois o pensamento está no que farei durante o dia. Como minhas torradas com requeijão sem a consciencia do ato. O pior de tudo é a leitura mecânica. Passo os olhos pelas palavras, linhas, folhas... Leio, mas quando me dou conta... Não sei o que li. Trabalho alienadamente, não me encontro no fruto do meu suor.
Já teria virado poeira se não fosse meu kit de sobrevivência. A voz do Fernando Anitelli, da Carla Bruni, as músicas do Cordel do Fogo Encantado, dos Los Hermanos, as poesias do Arnaldo Antunes, do Fernando Pessoa... aah! quem me dera ser Alice... Comer biscoitos que me fariam crescer ou encolher! Enquanto não avisto um coelho apressado, fico viajando ao som de Yann Tiersen com síndrome de Amelie Poulain.